Nas camisas, nos olhos, nos corações. A fé em Irmã Dulce, agora Santa
Dulce dos Pobres, canonizada no último dia 13, atraiu milhares de fiéis à
Arena Fonte Nova, em missa celebrada pelo arcebispo primaz do Brasil,
dom Murilo Krieger, neste domingo (20).
O governador Rui Costa participou da celebração, acompanhado da
primeira-dama e presidente das Voluntárias Sociais da Bahia (VSBA),
Aline Peixoto, e de José Maurício Moreira e Cláudia Araújo, que
receberam a graça da cura, reconhecida pelo Vaticano.
Para Rui, Santa Dulce dos Pobres está acima das religiões pela
generosidade, história e cuidado com o próximo. "Com a canonização de
Santa Dulce dos Pobres, a Bahia torna-se uma referência ainda maior do
que já é da fé, com suas mais de 300 igrejas, como a
do Bonfim, de Nossa Senhora da Conceição da Praia, do Rosário dos
Pretos e de São Francisco. Isso vai ser muito bom também para reforçar o
destino religioso que é a nossa capital", afirmou o governador.
Segundo o secretário do Turismo do Estado, Fausto Franco, o
fortalecimento do turismo religioso já é uma realidade. "Nós já tivemos,
nesta noite, 86% de ocupação na rede hoteleira de Salvador. É um número
expressivo para um fim de semana comum", revelou.
O turismo da Bahia, lembrou o secretário, é plural e o turismo religioso
faz parte desse conjunto. "Este é um turismo independente da alta
estação, de estar chovendo ou fazendo sol. E as pessoas que fazem
turismo religioso têm como característica retornar outras
vezes ao destino. A Bahia é muito rica na cultura religiosa. É um mix
que a Bahia oferece e faz com que sejamos um estado muito especial",
acrescentou Fausto Franco.
Presente na celebração, o jornalista Florian Plaucheur, da Agence France
Press (AFP), destacou que "o Brasil agora tem uma santa e isso é muito
importante para a comunidade católica de todo o mundo. Então, a AFP está
presente, com repórter de texto, repórter
cinematográfico e fotógrafo, para mostrar para o mundo que o Brasil tem
uma nova santa".
A cantora Margareth Meneses também participou da homenagem. "Ter
participado da canonização, cantado na cerimônia, e agora estar nessa
homenagem é para mim uma grande emoção. A energia, a força que ela teve e
que continua, tudo isso é muito bonito. Proporcionar
acolhimento aos seres humanos mais abandonados não tem preço".
Obras Sociais Irmã Dulce
A superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) e sobrinha de
Santa Dulce dos Pobres, Maria Rita Lopes Pontes, disse que a canonização
fortalece a obra e permite que a missão de Irmã Dulce seja ampliada.
"Não é somente o atendimento de saúde. A gente
tem que acolher bem as pessoas que chegam para conhecer a história de
Irmã Dulce e o seu memorial". A instituição realiza 2,2 milhões de
atendimentos ambulatoriais por ano e 12 mil cirurgias.
Dom Murilo Krieger ressaltou que a canonização de Santa Dulce dos Pobres
não é importante somente para religião católica. "Ela é um exemplo para
todos nós. Eu tenho certeza que os nossos irmãos, sejam de que religião
forem, reconhecem a generosidade de Irmã
Dulce e também que ela fez o bem para todos, sem perguntar de qual
religião era a pessoa que recebia a ajuda. Assim, todos vamos aprendendo
a nos respeitar mutuamente".
Santa Dulce dos Pobres
Irmã Dulce nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador. Aos 7 anos, ela
perdeu a mãe e, aos 13 anos, já acolhia mendigos e doentes na casa onde
morava com o pai e os irmãos, no bairro de Nazaré, na capital baiana. A
vida religiosa começou aos 18 anos, quando,
após se formar como professora primária, ingressou na Congregação das
Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus
Somente aos 19 anos, em 13 de agosto de 1933, recebeu o hábito de freira
e adotou o nome de Irmã Dulce em homenagem à mãe, que se chamava Dulce
Maria. Naquele mesmo mês, ela viveu seis meses em São Cristovão (SE) e
depois voltou para Salvador. Em 1935, iniciou
a assistência à comunidade carente, sobretudo nos Alagados, conjunto de
palafitas que foi formado no bairro de Itapagipe, na capital baiana
Em 1939, Irmã Dulce invadiu cinco casas, em um local de Salvador
conhecido como Ilha dos Ratos. Nos imóveis, acolheu enfermos e
desabrigados. Ainda na década de 30, ajudou operários do bairro de
Itapagipe, em Salvador, a formarem a União Operária São Francisco.
Logo depois, juntamente com Frei Hildebrando Kruthaup, fundou o Círculo
Operário da Bahia
Junto aos trabalhadores, ela inaugurou um colégio para os filhos dos
operários e ainda ajudou a fundar os cinemas Plataforma e São Caetano,
além do Cine Teatro Roma; a renda obtida nos cinemas contribuía para a
manutenção do Círculo Operário. Na década de 60
transformou um galinheiro do Convento de Santo Antônio em albergue.
Mais tarde, o lugar deu origem ao Hospital Santo Antônio, no Largo de
Roma, em Salvador, e às obras sociais que levam o nome dela
Em 13 de março de 1992, faleceu em Salvador. Em 2011, foi nomeada beata.
Em 13 de outubro de 2019 foi canonizada e se tornou santa com o nome
Santa Dulce dos Pobres.
Beatificação
Irmã Dulce foi beatificada em 2011, após ter o primeiro milagre
reconhecido. A graça alcançada foi a recuperação de Cláudia Araujo, que
teve uma grave hemorragia pós-parto e cujo sangramento subitamente
parou, sem intervenção médica. Após beatificada, Dulce
Lopes Pontes passou a ser chamada 'Bem-aventurada Dulce dos Pobres'.
Para
ser considerada santa, Irmã Dulce precisaria ter um segundo milagre
reconhecido, o que ocorreu em maio deste ano. O miraculado, o maestro
soteropolitano José Maurício Moreira, voltou a enxergar após fazer uma
oração para a então beata. Ele teve glaucoma e começou a perder a visão
em 1999. Em 2000, ele já estava cego, mas voltou a enxergar em 2014.