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Colbertzinho e a dignidade que merece respeito

Política - 14/08/2011

Jozailto Lima/ Opinião pessoal
O exercício de quase 30 anos de jornalismo fundou em mim, e geralmente em todos os meus companheiros desta atividade, uma concepção de que a defesa é algo bem difícil. Imprudente. Fomos preparados para viver da suspeição, do erro alheio e da sua exposição. Não por mero masoquismo, mas pela presunção de que o erro exposto ajuda a corrigir rumos e evitar os danos da sua repetição. Infelizmente, ou felizmente, esta é a anatomia elementar da atividade. Jornalismo gracioso é a coisa mais desengraçada do mundo. Não serve a ninguém, nem a nada.
Faço este preâmbulo para dizer que incomodou-me, constrangeu-me e desagradou-me a notícia da prisão do cidadão e homem público Colbert Martins da Silva Filho, que está eventualmente secretário Nacional de Desenvolvimento de Programas do Ministério de Turismo. Incomodou-me porque Colbert Filho não é da laia dos homens que se deixem enquadrar em práticas que lhe valham uma prisão. Uma detenção qualquer.
E ao fazer esta revelação, dou-me a uma rara concessão jornalística da escrita em defesa. Mas não me dói na consciência fazê-lo. Quem conhece Colbertzinho, desde a cepa paterna do Colbertzão pai dele, sabe que é homem de caráter bom. De ação ética. Um camarada tão curtido a bons princípios políticos que, às vezes, constrói dificuldades até contra ele mesmo, de tão austero que é. De tão retilíneo como se põe e posta frente a certos atos da política, o que talvez justifique o fato de ele nunca ter chegado, ao contrário de seu pai, a ser prefeito de Feira de Santana – cargo que lhe é devido.
Sei, à distância, porque vivo hoje em Aracaju, Sergipe, depois de 11 anos nesta boa terra feirense que foi meu primeiro berço jornalístico, que os habitantes desta fantástica cidade e dos demais municípios baianos onde Colbertzinho é conhecido e votado como candidato a deputado federal, devem ter se contrariado sobremaneira com a prisão dele – já devida e tardiamente relaxada.
E não é para menos: quando algo de ruim e ilógico acontece a alguém de bem, as demais pessoas de bem se ofendem. Sentem-se aviltadas. Sou capaz de apostar que neste momento as lideranças notáveis do seu oposto em Feira, como José Ronaldo de Carvalho, ou Tarcísio Pimenta (com quem não convivi em minha estada por aqui), devem estar chateadas e não felizes com o que ocorreu a Colbertzinho. Porque discordam da ação da polícia. E porque sabem que ele não é gestor de ir pelo caminho errado.
Colbert Martins da Silva Filho pagou um preço caro porque o braço do Ministério do Turismo que ele representa desembolsou R$ 900 mil para resgatar uma fatura que não deveria ter sido paga. É grave, sim. Mas todos nós gestores, eu o sou, como diretor de Jornalismo de um jornal grande, corremos o risco de apor uma assinatura numa coisa que não seja bem calçada. Não deve ocorrer, mas ocorre. Sou capaz de colocar a mão no fogo que Colbertzinho não fez aquilo com intenção dolosa. Com propósito de lesar o erário. De tirar vantagem. Porque seria um ato que macularia a sua história. E por ela, ele vela bem.
Portanto, o erro da sua pasta, e que seja lá dele, deveria ter sido tratado com outro rigor. Corrigido internamente. Reposto ao erário aquilo que do erário jamais deveria ter saído. Nunca e nem jamais serei contra a que se combata a corrupção e os corruptos. Aliás, nisto o Governo Dilma Rousseff está sendo exemplar, muito mais ativo do que o de Lula - sem querer entrar no mérito das ações que tentam opor um ao outro. Mas é preciso olhar na cara do trigo e não confundi-lo com o joio. Colbert Martins da Silva Filho não merece isto, porque não tem a menor simetria e nem familiaridade com a corrupção.
Celso Leal, procurador da República, parece ter chegado atrasado quando diz que não houve provas robustas contra este feirense. Este tipo de constatação tardia engendra mais injustiça do que justiça. Ora, se não havia robusteza, por que houve a prisão? Para o mero exercício da exposição pública? Vivemos ainda o tempo em que se dá o soco e depois pergunta-se quem é mesmo o agredido?
É claro que, deste episódio todo, deve ficar um travo amargo no extrato do espírito de Colbertzinho, um sujeito que passou batido legalmente por toda uma vida. E fica ainda a constrangimento dos familiares e dos amigos, embora devamos todos, sem complexo de Pollyanas, admitir que quando se perpetra uma injustiça contra uma pessoa justa, esta se faz mais justa ainda. Naturalmente os amigos, Colbertizinho, saberão apagar as marcas desta desastrosa ação, mesmo porque ela se fez sobejamente desnecessária, abusiva e ofensiva. Bom repouso. Retoque os riscos da alma e reponha de volta as mulas no caminho da marcha.
Jozailto Lima é diretor de Jornalismo do jornal Cinform, em Aracaju, Sergipe. Ele foi repórter de Política do Feira Hoje por oito anos (de 1983 a 1990) e trabalhou na TV Subaé. jozailto@conform.com.br ou
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Jozailto Lima
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