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Ícones da arquitetura neoclássica e moderna são tombados pelo Estado

Especiais - 06/12/2010
Ícones da arquitetura neoclássica e moderna são tombados pelo Estado O tombamento do Hotel da Bahia integra o conjunto de ações do IPAC - Foto: Divulgação

Duas emblemáticas construções exemplos dos estilos arquitetônicos neoclássico e modernista, em Salvador, respectivamente, o Palácio da Aclamação e o Hotel da Bahia, passam a ser reconhecidas HOJE, dia 06/12, como Patrimônios Culturais do Estado. Distantes cerca de 300 metros uma da outra e localizadas na Avenida Sete de Setembro artéria importante do centro antigo da cidade -, a primeira foi construída no final do século 19, em 1894, e a segunda, 57 anos depois, em meados do século passado.

 

Os decretos de bens culturais baianos dos dois prédios, já assinados pelo governador Jaques Wagner, estão publicados na edição do Diário Oficial do Estado de hoje e serão anunciados a partir das 14h durante solenidade no Palácio Rio Branco que comemora os 25 anos da chancela de Patrimônio da Humanidade da Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura) para o Centro Histórico de Salvador.

O tombamento do Hotel da Bahia integra o conjunto de ações que o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), da secretaria de Cultura (SecultBA), empreende desde 2007 em benefício de edificações de estilos arquitetônicos modernistas e art déco. Em 40 anos de fundação o IPAC só havia reconhecido um prédio moderno, o Instituto do Cacau criação (1932) do arquiteto Alexander Buddeus em estilo modernista com raízes no expressionismo alemão e o conjunto Escola Parque do arquiteto baiano Diógenes Rebouças, também autor do Hotel da Bahia.

 

“De fato, diversas representações da sociedade civil, como universidades, cursos de história, arquitetura e urbanismo, e o Instituto dos Arquitetos do Brasil, já veem solicitando que o Estado reconheça outros imóveis significativos para a Bahia que não sejam apenas de arquitetura barroco-colonial”, diz o diretor geral do IPAC, Frederico Mendonça. Atendendo essa demanda, desde 2007, o IPAC, em ação inédita, iniciou os estudos para tombamento de seis grandes edificações e um centro urbano com essas características.

 

“Iniciamos os tombamentos do Edifício Caramuru no Comércio que é referência internacional da arquitetura moderna brasileira, edifícios A Tarde e Sulacap na Praça Castro Alves, Oceania na Barra, Dourado na Graça, Hospital Aristides Maltez em Brotas e o Hotel da Bahia no Campo Grande”, relata o diretor do IPAC. O Instituto também começou pesquisas para tombamento do centro histórico da cidade de Cipó, considerado o maior e mais bem conservado conjunto urbano art déco do Brasil. Além da chancela e reconhecimento oficial, o tombamento permite que os prédios sejam beneficiados e tenham prioridade nas políticas públicas de restauração predial, sejam elas dos governos municipal, estadual ou federal.

 Com melhorias administrativas o IPAC conseguiu aumentar nos últimos quatro anos em mais de 400% os serviços de salvaguarda, incluindo orientações técnicas a municípios, tombamentos e registros de bens culturais – materiais ou imateriais – exposições, seminários, cursos, oficinas, publicações, produção de vídeos-documentários educativos e obras de restauração de monumentos. Mendonça destaca que um dos principais objetivos foi superar o déficit de demandas não-atendidas como, por exemplo, a igreja de Brotas que os moradores do bairro solicitavam tombamento desde a década de 1970. Segundo dados do IPAC, a Bahia tem atualmente 188 bens culturais reconhecidos pela União, sendo 69 em Salvador. O Estado reconheceu 167 patrimônios, sendo 104 na capital. Já a prefeitura da capital tem sido alvo de demandas para que crie e implante uma política de proteção efetiva dos bens edificados existentes no município que administra.

 

NOTAS COMPLEMENTARES:

ACLAMAÇÃO - Residência de governadores baianos por mais de cinco décadas, o Palácio da Aclamação está localizado na Avenida Sete de Setembro, nas imediações do Campo Grande e Forte de São Pedro, na Cidade Alta, em Salvador. O pedido de tombamento do Aclamação foi feito em 2007 pelo Curso de História – habilitação em Patrimônio Cultural – do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Católica do Salvador.

O Estado, através do IPAC/SecultBA, realiza tombamentos dando proteção legal a patrimônios materiais, como edificações, monumentos e bens móveis – estatuaria, imagens sacras e obras de arte – que tenham reconhecidos méritos para a Bahia. “Edificações de relevância municipal devem ser protegidos por institutos de salvaguarda implantados por prefeituras municipais”, alerta o gerente de Pesquisa (Gepel) do IPAC, Mateus Torres. Já imóveis de relevância nacional são tombados pelo governo federal, através do Iphan/Ministério da Cultura.

Os estudos para o tombamento do Aclamação contaram com equipe multidisciplinar de historiadores e arquitetos do IPAC que realizaram levantamentos do prédio e região onde está localizado, compondo dossiê com textos analíticos, recortes de jornais, documentos antigos, fotografias e pesquisa bibliográfica, entre outros itens. Como está responsável pelo palácio, o IPAC realiza obras de manutenção no antigo prédio desde 2008 até maio deste ano (2010) somando R$ 1,6 milhão já investidos. “Fizemos a reforma da estrutura e fundações, pintura das fachadas, esquadrias, gradis, portas e janelas, totalizando 2,7 mil metros quadrados de área”, informa o diretor de Patrimônio do IPAC, Paulo Canuto.

O prédio tem projeto original do arquiteto italiano Filinto Santoro, depois de ter sido construído como Palacete dos Moraes em 1894. Em setembro de 1911 o governo adquire o imóvel para transformá-lo em moradia dos governadores baianos. Em 1967, acontece a transferência da residência oficial para o Alto de Ondina e, em 1990, através do decreto nº4.148 o imóvel passa a ser administrado pelo IPAC.

Hoje, é um importante espaço artístico com grandes exposições temporárias e sede da Diretoria de Museus do IPAC. Com dois andares, anexos, jardins e acesso ao Passeio Público, a edificação tem elementos clássicos, com frontões triangulares e dentículos, formando um sincretismo estilístico marcado pela arquitetura neoclássica. A decoração interna no estilo Luís 16 apresenta painéis emoldurados, guirlandas, laços e medalhões pintados pelo famoso pintor baiano Presciliano Silva. Seu acervo permanente é composto por mobiliário estilos D. José e Luís 15, porcelanas, cristais, bronzes, tapetes persas e franceses. Outras informações sobre o Aclamação e suas exposições estão no site www.dimusbahia.wordpress.com, ou são fornecidas através do Tel. (71) 3117-6445 e 3117-6447.

HOTEL DA BAHIA - Quando foi governador da Bahia, entre 1947 e 1951, Octávio Mangabeira executou inúmeras obras de porte na capital do Estado. Neste conjunto de grandes iniciativas, merece destaque o Hotel da Bahia. Em parceria público-privada, Octávio Mangabeira deu início ao processo de instalação do primeiro hotel de porte da cidade. Ao término do seu mandato como Governador, em 1951, o edifício já estava concluído. Só passou a receber hóspedes, contudo, a partir de maio de 1952.

O anteprojeto original do hotel foi elaborado em 1947 pelo engenheiro agrônomo e artista plástico Diógenes Rebouças, que convidou o arquiteto carioca Paulo Antunes Ribeiro para desenvolver com ele o projeto executivo. A relevância do projeto é ressaltada em dupla publicação da L’Architecture d’Aujourd’hui, nas revistas especializadas Arquitetura e Engenharia, e inclusão no livro Modern Architecture in Brazil, de Henrique Mindlin, publicado simultaneamente em inglês, francês e alemão em 1956 e em português em 2000.

O prédio conta com importantes obras de arte integradas, como a fachada do volume cilíndrico do restaurante (térreo), revestida por azulejos em relevo desenhados por Paulo Antunes Ribeiro, e o mural “Festas Regionais”, pintado por Genaro de Carvalho (1926-1971) em 1950 na face interna das paredes do restaurante e tombado pelo IPAC desde 1981, agora reproduzido em retrospectiva do artista baiano no Museu de Arte da Bahia (MAB) – também equipamento do IPAC – aberta até o dia 13 de fevereiro (2011). 

 

O hotel se consolidou como o espaço de encontro da highsociety baiana e vips de passagem por Salvador e como cenário de importantes acontecimentos na afirmação da arte moderna baiana. Foi a residência, entre 1950 e 1960, de ilustres personagens da nossa história. Na década de 1970 foi executado primeiro projeto de reforma, de autoria desconhecida que incluiu duas piscinas e renovou a decoração. A reforma não evitou o processo de decadência do hotel, que terminou fechado em 1978.

 

Em 1980, Diógenes Rebouças foi contratado pela Companhia Tropical de Hotéis, que administrava o hotel desde 1963 para elaborar novo projeto de reforma e ampliação. Foram convidados os arquitetos Lourenço e Luiza do Prado Valladares. Reinaugurado em dezembro de 1984, o imóvel foi duplicado (área construída de 13.000m² para 24.000m²), com total de 278 apartamentos. O bloco de quartos recebeu um “pavimento de cobertura” recuado com relação aos demais, destinado aos serviços e espaços de lazer para os funcionários. O bloco da base, acrescido horizontalmente, teve sua área duplicada, perdendo a forma orgânica original e ampliando-se sobre o terreno a sudeste do edifício, do lado oposto ao acesso principal na Avenida Sete de Setembro. Nesta reforma, três ambientes receberam painéis em alto e baixo relevo, de concreto aparente, de autoria do artista plástico Carybé que estão sendo tombados igualmente pelo IPAC neste decreto. Passados 30 anos desde a reforma, em fevereiro deste ano (2010) a Rede Tropical de Hotéis anunciou sua saída e em 07 de março o hotel foi fechado. Como previsto, no dia 15 do mês de abril o Hotel da Bahia foi a leilão, tendo sido arrematado pelo grupo GJP, empresa do ramo hoteleiro do fundador da CVC, Guilherme Paulus.

 

Art Déco - O art déco é considerado um conjunto de manifestações artísticas, estilisticamente coesa, que se iniciou na Europa e se difundiu pela América do Norte e América Latina, chegando ao Brasil, a partir da década de 1920. A expressão art déco se traduz no interesse pela decoração. Geralmente suas linhas seguem simetria, havendo integração e articulação entre arquitetura, interiores e design, seja para o mobiliário, luminárias ou serralheria artística. O art déco apresenta-se de início como estilo luxuoso, destinado à burguesia enriquecida do pós-guerra, empregando materiais caros como jade, laca e marfim. A partir de 1934, ano de realização da exposição Art Déco no Metropolitan Museum de Nova York, o estilo passa a dialogar mais diretamente com a produção industrial e com os materiais e formas passíveis de serem reproduzidos em massa.

 

Arquitetura moderna - Modernismo foi um movimento artístico e cultural que se iniciou na Europa e começou a ter seus ideais difundidos no Brasil a partir da primeira década do século 20, por meio de manifestos de vanguarda, principalmente em São Paulo, e da Semana da Arte Moderna, realizada em 1922. O movimento deu início a uma nova fase estética na qual ocorreu a integração de tendências que já vinham surgindo, fundamentadas na valorização da realidade nacional, e propondo o abandono das tradições que vinham sendo seguidas até então, tanto na literatura quanto nas artes e na arquitetura.

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