Comemorando o Dia Mundial da Fotografia, celebrado em 19 de agosto, o
Museu Casa do Sertão, entidade da Universidade Estadual de Feira de
Santana (Uefs), lança a exposição virtual ‘Fotopintura: memórias
enaltecidas nas paredes’. São 19 retratos pintados, captados
colaborativamente de espaços domiciliares, que buscam entrecruzar
narrativas familiares aos referenciais estéticos e históricos, presentes
na expressão cultural popular da fotopintura.
A mostra pode ser acessada na página do Museu no YouTub:
https://www.youtube.com/
Pautado
no ideal de respeito, afeto e consideração, muitas famílias ainda
conservam retratos pintados nas paredes de suas salas, testemunhas do
tempo e das marcas por ele deixadas, num painel reflexivo que vai além
de suas relíquias. Considerada enquanto testemunho belo e colorido da
relação entre história e fotografia, a síntese entre retrato e pintura
que descreve visualmente recortes da realidade, em especial da
sertaneja, através de usos e costumes comuns a épocas passadas, é
elevada à condição de patrimônio cultural e artístico.
O conjunto
de imagens da mostra traz peculiaridades características da produção no
Brasil como o uso de contrastes entre tonalidades que instauram
composições a partir de recursos cromáticos como o claro-escuro e o uso
de cores vibrantes e cores suaves. Destacam-se a formalidade do
vestuário, rigidez nas posturas e semblantes dos retratados, assim como a
padronização de representações nas fotos de casal em que a figura
feminina apresenta-se com o corpo à frente da masculina.
Estima
Fotopintura
não é apenas um retrato colorido pintado à mão. As imagens preservadas
são mais do que a permanência de um fragmento do real sobre uma moldura.
Os rostos pintados revelam partes de uma realidade pausada no tempo,
congeladas da vida e devolvidas a ela com cores e inspirações
excepcionais, que permanecem nas paredes como uma verdadeira prova de
estima e consideração.
A técnica se popularizou no Brasil no século
20, nas décadas de 1950 e 1960, especialmente no Nordeste brasileiro. O
baixo custo possibilitou a democratização na aquisição de um
autorretrato com moldes de pintura, antes acessível a um pequeno grupo.
O
acréscimo de adornos como joias, ternos, gravatas e quando desejado, a
retirada de imperfeições da pele como manchas e rugas, possibilitam a
manipulação e transformação idealizada de imagens-documentos, legadas à
posteridade. Isso transborda delicadeza, senso estético e criatividade,
para delinear a vida e a face da população.
O retrato pintado
pode ser considerado símbolo e prova material da existência. Sua
conservação reside na necessidade humana de colecionar e apreciar
fragmentos do passado rememoráveis a qualquer instante, trechos de
trajetórias de vida e sonhos.
Na obra ‘Sobre Fotografia’, a
escritora e crítica de arte norte-americana Susan Sontag destaca que
“cada família constrói uma crônica visual de si mesma - um conjunto
portátil de imagens que dá testemunho da sua coesão. Pouco importa as
atividades fotografadas, contanto que as fotos sejam tiradas e
estimadas”.
Com a exposição, compartilhou-se do ideal de se
pensar o fenômeno museu de suas portas para fora, do exterior e do
interior que o caracteriza, num exercício de novas possibilidades
museais, não circunscritas apenas ao suporte tecnológico virtual, mas,
sobretudo nas relações de saberes e fazeres materializados nessa escuta
afetiva, sobre o que o outro tem a dizer a respeito de sua
ancestralidade e memórias. Um pequeno mosaico formado por narrativas
dotadas de potencial simbólico e poético, advindas de Alagoinhas,
Cansanção, Conceição do Coité, Gavião, Irará, Itatiba, Riachão do
Jacuípe, Salvador, Santaluz, e Santo Estêvão. Vale a pena conferir.
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