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Um conto curto – o fim

Contos e Crônicas - 08/10/2011

Toda a manhã lhe vinha a sensação de repúdio à realidade, ele não estava mais ali. Resistia por alguns segundos à idéia da nova vida. Poderia morrer, mas era demasiada covarde ou corajosa para enfrentar a situação que completava exatos trinta dias. O café da manhã era um ritual funesto, as lágrimas davam-lhe um sabor agridoce. A pressa cotidiana e os beijos não mais existiam. À noite a leitura era interrompida pela saudade e os pensamentos a levavam para os melhores momentos já vividos. Ouviu barulho na cozinha, levantou-se assustada, vestiu o roupão atoalhado e caminhou em passos silenciosos, o coração disparado, os olhos buscavam o interruptor, mas o medo não a deixava encontrar. Uma mão pesada tapou-lhe a boca e apavorada permaneceu imóvel, tão próxima aquele corpo, foram segundos de desespero e novamente lembranças aleatórias da infância, da adolescência, do seu amor que fora embora. Ela nunca quis viver tanto como naquele momento, ainda tentou se desprender, mas foi em vão. E mais uma vez movida pela coragem de morrer ou pela covardia de não lutar se rendeu. Aquietou-se e chorou conformada esperando o fim. A mão afrouxou-lhe a boca e segurou seu queixo projetando-o para trás como se fosse lhe contar um segredo e disse: - Eu te amo
Tereza Amaral

Tereza Amaral
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