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Pegando Fogo: confira crítica de filme com Bradley Cooper

Cinema - 15/12/2015
Pegando Fogo: confira crítica de filme com Bradley Cooper Pegando Fogo: confira crítica de filme com Bradley Cooper

Cinemáticos
Redação Cinemáticos

A primeira meia-hora de Pegando Fogo assimila-se a um piloto de série de TV aberta, em que tudo parece corrido e feito de forma artificial para que tanto o personagem principal quanto os seus coadjuvantes sejam introduzidos no universo do qual fazem parte, sem o menor critério em estabelecê-los como algo além de meros mecanismos para sua previsível fábula de queda e redenção – uma especialidade do roteirista Steven Knight e que nem tenta mais fugir da sua zona de conforto por sequer alguns minutos. No caso de Pegando Fogo, o mundo da haute cuisine está repleto de várias figuras: algumas arrogantes, algumas generosas, mas a maioria, infelizmente, esquecível.

 

O maior pecado do longa é tentar fingir ser algo além do que, realmente, é. A onda dos chefs/divas bad boys (eles mesmos uma compensação óbvia pela máxima sexista de que cozinha é lugar de mulher) surgidos nos últimos anos com suas gritarias em reality shows poderiam render um protagonista genuinamente interessante. E o Adam Jones interpretado por Bradley Cooper tem potencial para tal, em diversos momentos aproveitando a cara de bom moço do ator para surpreender com frases fortes e atitudes escrotas.

O problema está no fato do roteiro ter uma completa falta de compromisso com o potencial de seu protagonista. Após a primeira crise da qual o personagem tenta de forma mesquinha culpar todos ao seu redor, Jones passa a tornar-se vítima de tudo, chegando ao ponto de um personagem que o conhece há anos tentar justificar a pedância e vício em drogas do sujeito pela sua infância sofrida.
Por falar em drogas, um momento que chega a evidenciar quase como epítome a falta de risco do filme é quando um traficante supostamente mau, muito mau, manda um e-mail para o personagem Tony avisando que vai machucar o chef junkie caso ele não pague sua dívida. Sim, um traficante que manda e-mails de ameaça. É com esse nível de conflito que temos de lidar.

 

Quando o filme se concentra na rivalidade entre nosso “herói” e o chef rival Reece (Matthew Rhys, excelente), o filme aparenta trabalhar com algo minimamente convincente, e a forma como o longa evidencia a concorrência entre os dois, além da forma imatura como cada um lida com seus concorrentes, o longa realmente aproveita os elementos que formam seu universo pouco retratado no cinema. No resto do tempo, sobram os clichês de sempre, amenizados por um elenco talentoso.
Como dito anteriormente, Bradley Cooper é uma escolha interessante para o papel de chef mal humorado devido à sua cara de mocinho hollywoodiano, mas vai além disso: é possível notar um genuíno esforço do ator em não cair no óbvio, e ele consegue transitar de forma convincente entre momentos sóbrios e intensos sem forçar limites, ainda que entregando-se de forma absoluta ao papel. Talvez seja o melhor momento do ator, indo muito além da sua performance injustamente indicada ao Oscar em Trapaça. Daniel Brühl, como restaurateur homossexual travado e sem afetações, conquista aos poucos e é um dos ponto altos do filme justamente por não prometer nada e cumprir muito mais do que o esperado.

 

Sienna Miller é o par romântico forte que bate de frente com Cooper sem decepcionar, mas também sem qualquer surpresa. Matthew Rhys quase por conta própria salva a meia-hora final do filme quando seu personagem torna-se mais do que o chef prima donna visto anteriormente. Por último, Omar Sy é dono de uma simpatia natural inegável, mas é impossível dar a mínima para seu personagem, ainda que ele seja importante para uma reviravolta do filme. Uma Thurman e Alicia Vikander estão ali para aumentar o número de estrelas no mesmo filme e não dizem a que vieram.
Pegando Fogo é uma tentativa digna de retratar o mundo da haute cuisine, mas por não tomar nenhum risco acaba tornando-se muito menos do que pretende ou imagina ser. Seu roteiro apresenta apenas conflitos artificiais repletos de personagens utilitários  numa direção não oferece nada de novo em termos criativos. Sabe aqueles lanches insossos metidos a besta que você paga caro e nem lembra por que comeu? Pois é.




Ibahia

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