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Outra Tempestade no Margarida Ribeiro

Teatro - 25/02/2012
Outra Tempestade no Margarida Ribeiro A peça revisita personagens de clássicos de Shakespeare - Foto: Divulgaão
 
 

Em cartaz nos dias 25 e 26/2, às 20 horas, no Teatro Municipal Margarida Ribeiro, o espetáculo “Outra Tempestade”, vencedor do 17º Edital TCA Núcleo de 2011. A montagem, sob a direção de Luis Alberto Alonso, de acordo com a produção, “revisita personagens de clássicos de Shakespeare numa parábola que evidencia o nosso processo de formação como etnos-nação”.
“Não é um arremedo histórico nem o pretenso discurso de imitação das formas de diversas culturas que foram chegando e se amalgamaram com aquelas aqui estabelecidas. Outra Tempestade brinca com o legado cultural cedido à nossa contemporaneidade através de um processo antropofágico onde teve que ser devorado o outro para assim devolver um algo novo”. Luis Alberto Alonso.
O espetáculo estreou em 23 de novembro de 2011, na Sala do Coro do TCA, ficando em cartaz até 18 de dezembro de 2011. Além de Salvador, a peça será encenada em Feira de Santana, Santo Amaro, Alagoinhas e Ilhéus.

A produção do projeto é de Rafael Magalhães, assinada pela Carranca Produções Artística. O texto é das cubanas Raquel Carrió e Flora Lauten. Trata-se de uma versão do clássico "A Tempestade", de William Shakespeare. Para criar a narrativa, as autoras revisitaram obras clássicas do dramaturgo inglês como “A Tempestade”, "Hamlet", "Romeu e Julieta", "Macbeth", "Otelo" e "O Mercador de Veneza".
Em busca da “terra prometida” um barco deixa o "Velho Mundo" e por conta de uma forte tempestade naufraga nas águas litorâneas do "Novo Mundo". A partir desse encontro no continente americano, os novos habitantes passam a viver um “outro” projeto e guiados pelas mãos do Mago Próspero é instaurada uma República e fundada uma utopia. Os “mitos” shakesperianos se entrelaçam e Próspero domina o jogo através de uma transmutação das entidades que habitam a ilha. Hamlet encontra com Ofelia/Oshun, Macbeth se debruça sobre seus fantasmas com Lady Macbeth/Oya, Ariel/Exu desenha o jogo conduzido pelo Mago e leva Shylock a merecido julgamento.
A sedução e conseqüente amálgama entre o Velho e o Novo Mundo é dada também através dos planos das teatralidades, levando o espetáculo a uma grande performance de sonoridades, imagens, encontros e desencontros dos personagens.
Foram dois anos para a elaboração deste intertexto para teatro com base num processo investigativo, além de conversas e entrevistas e o manuseio de dezenove fontes escritas, incluindo obras completas de autores como Shakespeare e José Martí (político, pensador, jornalista, filósofo e poeta cubano. Criador do Partido Revolucionário Cubano e organizador da Guerra de 1895 pela independência de Cuba do domínio espanhol).
O ponto de vista anti-colonialista das autoras cubanas questiona posições estabelecidas Em Outra Tempestade, despojado da sua tragicidade, Hamlet, é um bufão que – após nos convidar a participar da representação - comenta ironicamente seus fatos fundamentais. O barco que naufraga não é observado desde a grota de Próspero, ele traz o próprio mago. Miranda não repudia Caliban, ama-o. Sicorax deixa de ser uma referência para se transformar em símbolo de maternidade. Durante a tormenta que destrói o barco, Oyá preserva para si o trovão, mas deixa o vento e a chuva nas mãos de Elegguá e Oshún respectivamente. Oshún, ainda sendo apresentada como deusa do amor e da sensualidade compartilha com Oyá a liderança dos mortos.
A MONTAGEM
Em quinze quadros que se sucedem vertiginosamente, o discurso dramático expressa o entrecruzamento de culturas, enquanto princípio de formação das gerações.
“Condição da alma que é vivida e também sofrida, a brasilidade – assim como a latino-americanidade - não é a fascinação pelo estrangeiro, nem torsos nus dançando ao som de toques e cantos polirritmados, muito menos vulgares práticas esotéricas de raiz hispano/lusófona, africana ou aborígene. A brasilidade é, mais do que tudo, um estatuto de cultura, uma atitude sempre aberta, desintegradora e integradora, assimiladora e re-funcionalizadora dos códigos que chegaram e continuam chegando aos nossos países”, afirma Luis Alberto Alonso.
Os rituais do texto são um convite à reflexão estética e teatrológica. Essa reflexão está relacionada ao que tem se determinado como Antropologia Teatral, um campo de investigação científica, mais ou menos emergente, que postula um amplo espectro de inquietações apaixonantes. Entre essas inquietações estão a abertura do sagrado e autêntico (e aqui entra a religiosidade) na aproximação a uma raiz ou sentido humano, o papel do símbolo na sua relação ou conceito, a procura de constantes "universais" na técnica do ator e o problema das origens do teatro.
A estética desta montagem é a do não cenário, do espaço nu, o palco desmantelado, o não uso de cenografia na sua denominação tradicional e convencional, não uso de estruturas que dêem referência a espaço, tempo ou lugar. Os elementos que integram o palco são as ações criadas entre atores, luz, texto literário e sonoridades. A luz dialoga com o ator, o figurino com os elementos, a música com as ações e assim, usando como num jogo de probabilidades todos os instrumentos da encenação, menos a cenografia tradicional, o que revela um conceito de cenário já existente, o próprio palco sem vestimentas. “O ator e um espaço vazio é o que predomina nesta montagem. Há coisas urgentes a serem mostradas nesta obra, elas atingem muito profundo o ser humano e estas “coisas” são expostas. Não é uma estética minimalista, eu diria mais bem uma estética do seco”, argumenta o diretor Luis Alonso.
Segundo o crítico cubano Pedro Morales, “Outra Tempestade é fruto de uma perversão, quase um ato de bruxaria, uma apoteose de Ilusionismo Teatral”. Para Luis Alberto Alonso, o texto “Outra Tempestade, no aspecto literário, lembra a obra de João Ubaldo Ribeiro, Viva o Povo Brasileiro, pois, ao mesmo tempo que rememora elementos fundadores, evoca mitos de origem e relembra contos e lendas que existem na tradição oral, transgredindo conceitos como os de herói e povo.
TCA NÚCLEO - EDIÇÃO 2011
“Outra Tempestade”, projeto selecionado para o edital de montagem de espetáculo teatral TCA.NÚCLEO 2011, é produzido por Rafael Magalhães e assinado pela Carranca Produções Artísticas em parceria com o diretor associado Luis Alberto Alonso. Entre os pontos relevantes que definiram esta decisão a Comissão destacou a qualidade artística e cultural do projeto e ressaltou, entre outras questões, os indicadores de inovação e originalidade e o caráter formativo e de pesquisa apontado na justificativa e exposição oral do projeto.
A Comissão de Seleção que avaliou os projetos inscritos, nesta edição 2011, foi formada por Elísio Lopes Júnior (Diretor, dramaturgo e diretor de teatro da FUNCEB), Celso Junior (Ator, diretor e professor), Luiz Marfuz (Diretor e professor), Jorge Vermelho (Ator, diretor e atual diretor artístico do BTCA) e Cacá Carvalho (Diretor e ator paraense reconhecido por trabalhos de destaque na televisão, teatro e cinema).
Edições anteriores – Desde que se tornou uma realização feita através de editais e seleções públicas, em 2007, o Núcleo de Teatro do TCA (TCA.Núcleo) possibilitou a montagem de quatro espetáculos teatrais, que, ao todo, alcançaram um público de mais de 12 mil pessoas. Foram eles: 2007/2008, “Policarpo Quaresma”, com texto de Lima Barreto e direção de Luiz Marfuz; 2008/2009, “Jeremias, o Profeta da Chuva”, com texto e direção de Adelice Souza; 2009/2010, o infanto-juvenil “Aventuras do Maluco Beleza”, dirigido por Edvard Passos, e “Dias de Folia”, dirigida por Jacyan Castilho.
Sobre Luis Alberto Alonso
Radicado na Bahia há oito anos, o artista de origem cubana é fundador do grupo Oco Teatro Laboratório junto com o ator e produtor Rafael Magalhães. Alonso também é idealizador e diretor artístico do Festival Latino-Americano de Teatro da Bahia (FILTE) e responsável por inúmeras publicações e traduções de teatro. Dirigiu, em Salvador, espetáculos como "Branca - O Santo Inquérito" (2007), versão de O Santo Inquérito de Dias Gomes, “Cuide de você” (2004), "Intervenções em Preto e Branco” (2010) e “Os Sonhos de Segismundo" (2009), este último indicado a Melhor Espetáculo do Prêmio Braskem 2009.
Organiza a Coleção Dramaturgia Latino-Americana em parceria com a Editora da Universidade Federal da Bahia –EDUFBA. Tem participado de festivais e ministrado palestras e cursos em vários países como Estados Unidos, Espanha, Portugal, Dinamarca, Polônia, Eslovênia, Áustria, Suécia, República Dominicana, Chile, Equador, Peru, Alemanha, Cuba, Brasil.
Graduou-se em direção teatral pela Escola Nacional de Artes (ENA), de Havana (Cuba) e integrou o Instituto Superior de Arte (ISA) de Havana, Cuba durante 3 anos. Integrou a 1ª Companhia de Teatro de Cuba, Teatro Buendia, onde atuou em diversos espetáculos. Em 2000, foi agraciado com o título de “Ator de Primeiro Nível”, o mais importante reconhecimento de avaliação pelo Ministério da Cultura de Cuba. Em 2001 ingressou no Instituto Superior de Arte de Havana (ISA), na área de Interpretação Teatral. Desde 2005 faz parte como membro permanente do Grupo Internacional de Pesquisa Teatral no Trabalho do Ator, Ponte dos Ventos, dirigido pela atriz fundadora do Odin Teatret, Iben Nagel Rasmussen.
FICHA TÉCNICA
Texto. Raquel Carrió e Flora Lauten
Tradução: Luis Alberto Alonso e Ângela Reis
Colaboração: Cacilda Povoas e Hector Briones.
DIREÇÃO : Luis Alonso
ASSISTENTE DE DIREÇÃO: Renata Berenstein
ELENCO:
Urias Lima (Próspero)
Helóisa Jorge (Miranda)
Jefferson Oliveira (Macbeth)
Jorge Santos (Caliban) e (Bob)
Diana Ramos (Ariel/Exu)
Simone Brault (Lady Macbeth/Oiá)
Fernando Santana (Hamlet)
Luisa Muricy (Ofélia/Oshun)
Danilo Cairo (Shylock)
DIREÇÃO, COMPOSIÇÃO MUSICAL E AULAS DE CANTO: Jomary Hechavarria Matienzo
MUSICOS: Jomary Hechavarria Matienzo (Teclado)
Laila Rosa (Violino e Rabeca)
Ilma Nascimento (Violãocello)
Rodrigo Sestem (Flautas)
Ubaldo Oliveira (Percussão)
Anderson dos Santos (Percussão)
AULAS DE DANÇA AFRO-CUBANA E TREINAMENTO FISICO: Luis Alonso
CENÁRIO: Luis Alonso
EXECUÇÃO DE CENÁRIO: Zuarte Junior
ASSISTENTE DE CENÁRIO: Fred Alvim e Ednei Alessandro
FIGURINO: Zuarte Junior
ASSISTENTES DE FIGURINO: Antônio Fábio e João Marcelo
ILUMINAÇÃO: Rita Lago
ASSISTENTE DE ILUMINAÇÃO: Ademir Fortuna
MAQUIAGEM: Priscila Marques
ADEREÇOS E MASCARAS: Agamenon Abreu (concepção e execução)
Sueli Garcia (execução)
CENOTECNICA: Adriano Passos, George Santana, Paulo Mauricio, Israel Luz (Gão) Paulo Mauricio (tchuko) e Agnaldo Queiroz
COSTUREIRAS: Guida Maria, Maria do Carmo, Célia Araujo e Letícia Santos
PESQUISADORES: Fátima Barreto – Critica Teatral
Vinícius Lírio
TEXTOS INSTALAÇÃO. Fátima Barreto
VOZ EM OFF. Marcelo Quintanilha.
PROJETO GRÁFICO: Antonio Figueiredo
ASSESSORIA DE IMPRENSA: Carolina Campos
PRODUÇÃO: Carranca Produções Artísticas
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Rafael Magalhães
ASSISTENTE DE PRODUÇÃO: Inajara Diz
Poliana Bicalho (colaboradora)
Vagner Rocha (colaborador)
Espetáculo: Outra Tempestade
Local: Teatro Municipal Margarida Ribeiro
Quando:25 e 26 de fevereiro (Sábado e Domingo)
Horário: 20 horas
Ingresso: R$ 20,00 (inteira) R$ 10,00 (meia)
Venda na Bilheteira do Teatro
Maiores Informações Telefone: 3625 9533"

 

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