Benditos os loucos
porque encontram tempo para se arrepiar
com as encantações do crepúsculo
porque se comovem de indignação
diante da barbárie que tanto espezinha o humano.
Benditos os loucos
porque abraçam as árvores
cultivando a relação de complementaridade com a natureza
porque ousam arriscar cotidianamente
inventando os compassos de sua própria destinação no mundo.
Benditos os loucos
porque se espantam com a grandeza das coisas pequenas,
das inutilezas da vida
porque se inconformam e se rebelam
diante de tantos abusos aos direitos humanos, ao ecossistema.
Benditos os loucos
porque se arrepiam com as intensidades
do laço de um abraço apertado
porque pagam o mico das errâncias
que nos iniciam nas aprendências dos sentidos da vida.
Benditos os loucos
porque se extasiam com a graça e a leveza
do riso de uma criança
porque buscam romper as grades das prisões escolares
e incrementar instâncias de fruição do saber com sabor de vida.
Benditos os loucos
porque preferem experimentar, “sujar as mãos”,
do que se enlatar nas coisas prontas, pre-moldadas
porque repudiam as lógicas do individualismo e da competição,
e primam pelas lógicas do altruísmo e da solidarização.
Benditos os loucos
porque transgridem as fôrmas dos padrões do ordinário
e se aventuram nas formas moventes do extraordinário
porque se despojam de corpo e alma,
e caem na folia das celebrações que renovam e vivificam o existir.
Benditos os loucos
porque se enternecem com a formosura da lua cheia
em estado pirilampo de ad-miração.
porque rompem com as cercas dos poleiros das galinhas
e alçam os voos altaneiros de seu espírito de águia.
Miguel Almir
Miguel Almir