Tudo que vejo me afeta
desde o céu azul-fervente
ao desenho da calçada
a soneca da indigente
e o casal que se abraça
pelo que passo me afeto
a sonora folha seca
e a garrafa degolada
que jogaram nesta esquina
seja a flor de buganvília
seja o voo da borboleta
tudo em volta me afeta
o pivetinho comendo
sentado no meio-fio
de costas pras belas mesas
da grande sorveteria
que ainda passa por consertos
pelo que vejo me afeto
o atendente que me dá
mais um maço de cigarros
com um palito nos dentes
o ronco bebum dos carros
e pelo asfalto malfeito
por tudo isso me afeto
por tudo tenho afeição
afeiçoam-me histórias
mesmo as que não sei do fim
desde a vidinha comum
aos esforços da poeta
tudo no mundo me afeta
Araylton Públio
Sinais de Transe, Mac Edições, FSA: 2011.
Araylton Públio