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Dom Itamar Vian

Casar consigo mesmo

07/06/2011

Há tempo, uma atriz afirmou ser casada, solteira, viúva... um pouco de tudo. Já a cantora Fafá de Belém declarou que estava casada consigo mesma. Agora, em Taipe, capital de Formosa, uma taiwanesa, de 33 anos, foi notícia ao convidar um seleto grupo de amigos e amigas para seu casamento. À imprensa explicou seu gesto, o autocasamento: “Devemos nos amar antes de podermos amar os outros. Eu devo casar comigo antes de casar com outro”.

 

CASAMENTO deve abranger duas dimensões: festa e seriedade. Hoje, muitos preferem a comédia. Preocupam-se com a moldura, esquecem o quadro, dão importância ao acessório, esquecem o principal. É por isso que tantos casamentos naufragam. Cristo elevou o casamento – uma instituição natural – à dignidade de Sacramento, isto é, uma realidade sagrada e portadora de graça. Ele alertou sobre a necessidade de “construir sobre a rocha” (Mt 7,24-27).

 

POR SER uma obra divina e humana, o casamento deve levar em conta essas duas dimensões. O namoro e o noivado devem partir da realidade de um e outro, para que o sonho não se transforme em pesadelo. A imaturidade, por vezes, torna os jovens cegos às limitações. Essas costumam aparecer depois. E vem o desabafo: no namoro você não era assim.

 

TAMBÉM o planejamento deve ser levado a sério. Isso significa projetar com realismo a vida a dois: onde vão morar, como será o orçamento doméstico, número de filhos, como será a educação deles, distribuição de tarefas. Outras questões importantes: o papel dos sogros e se ela vai trabalhar fora.

 

CASAMENTO é um projeto a dois. Os jovens, acima do projeto pessoal, adotam um projeto comum. É fazer de duas vidas uma só vida ou uma só carne, como afirma a Bíblia. Ninguém vai abdicar de sua personalidade, mas ajustá-la ao novo modo de vida. Mais que ser feliz, o amor objetiva fazer feliz. Isso exige cuidado. Um diálogo a duas mãos, a capacidade de falar e escutar.

 

INFELIZMENTE, há muitos noivos que casam consigo mesmos. E essa cerimônia poderia ser feita diante do espelho. Outros casam com uma ilusão e, após a lua de mel, deparam-se com a desilusão. E quando a casa não resiste à tempestade, a ruína é grande, diz o Evangelho. Como é praticamente impossível remediar, é necessário, é inteligente, prevenir. Construir sobre a rocha exige tempo e paciência.

 

+ Itamar Vian

Arcebispo Metropolitano

di.vianfs@ig.com.br

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