No dia 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, libertando 750 mil negros. Desta forma encerrava-se um longo período da história. Oficialmente, tinha fim a escravidão. O processo de extinção da escravidão foi lento e progressivo. Em 1871, era aprovada a lei do ventre livre e, em 1885, foi sancionada a lei dos sexagenários.
ESCRAVIZAR é reduzir outra pessoa a uma propriedade particular. É a coizificação do outro. É reduzir o outro a instrumento de trabalho, à mercadoria que se compra, explora vende ou mata. Mesmo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e muitas outras leis, a escravidão continua sendo uma das piores violências de um ser humano sobre o outro, de um povo sobre o outro.
O JEITO de escravizar variou conforme a época histórica. Quando nasceu o capitalismo a forma de escravidão escolhida foi buscar negros na África e reduzi-los a escravos. O capitalismo, que tudo transforma em mercadoria, transformou também a pessoa humana em mercadoria. Como qualquer outro objeto ela passa a ser comprada e vendida.
O CONTINENTE africano foi saqueado em suas riquezas e em seus melhores filhos por séculos. Sabemos que os negros foram trazidos para o Brasil e ocuparam o lugar dos índios, que resistiram de todas as formas à escravidão. Diante da impossibilidade de “fazer os índios trabalharem”, então buscou-se os negros.
NOSSA história escravocrata deixou marcas profundas na sociedade brasileira. Não aprendemos a lição e agora a escravidão volta sem escolher a cor da pele. Os escravocratas aproveitam das condições de indigência do povo brasileiro e reduzem pessoas que buscam trabalho à condição de escravos. Por isso, a luta contra escravidão é uma tarefa histórica permanente.
A BAHIA, principalmente a região Oeste, também está no mapa da escravidão brasileira contemporânea. Ali, nas grandes fazendas do agronegócio, o trabalho escravo tornou-se uma constante. O moderno e o arcaico, a produção e a devastação, a tecnologia e a escravidão andam de braços dados.
A ÚNICA atitude que não pode acontecer é o anestesiamento das nossas consciências e de nossa ética. A escravidão sempre foi e será degradante, humilhante, uma aberração. Nossa tarefa é fazer a sociedade pensar e agir contra essas bestialidades e a favor da vida e dignidade de cada ser humano, Deus revela o que pensa da escravidão: “ouvi o sofrimento do meu povo e desci para libertá-lo”(Ex 3,7-8).
+ Itamar Vian
Arcebispo Metropolitano
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Dom Itamar Vian