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Dom Itamar Vian

O lado bom da Micareta

17/04/2018

Muitas pessoas desejam, em nossos dias, transformar esta vida, tão sofrida em uma vida alegre. Querem ter um espaço de liberdade onde os preconceitos raciais, culturais, sociais e até mesmo religiosos, sejam deixados de lado. Aspiram ter um espaço para dança, recreação, descanso e cultivo de amizades.
FESTEJAR faz bem. Alimenta o espírito, renova o corpo, reaviva a esperança de dias melhores. Por isso, precisamos preservar nossas festas, celebrar nossas vitórias, viver nossa cultura e mostrar a todos nossas capacidades, nossas artes, nosso folclore. Precisamos plantar nossa esperança na sementeira muito fértil que é nosso povo, pobre de dinheiro, mas rico em justiça, ética, cultura, alegria e fé.
ALEGRIA e responsabilidade constituem atitudes profundas da pessoa humana. A Micareta, deveria trazer para todos momentos de descanso, de fraternidade e de alegria. Mas é, igualmente, a responsabilidade que deve ser levada em conta, pois nos obriga a examinar as condições para que esta alegria seja duradoura e extensiva a todos.
O QUE VOCÊ vê nos dias de Micareta? Eu já vi uma jovem pular na Micareta e três meses depois chorar de arrependimento pelo filho que não queria e vi outra jovem feliz passar três dias de descanso e convivência com seus familiares e amigos. Vi um pai gastar R$ 800,00 e negar comida a seus filhos e vi outro trabalhar, normalmente, nos mesmos dias de Micareta, e garantir remédios para sua mãe velhinha. Eu vi o álcool  e outras drogas levar uma porção de gente para o hospital e  vi rostos sorrindo porque estão em paz consigo mesmo, com a família e com Deus.
A MICARETA, portanto, pode ser aproveitada como um tempo de festa e de alegria, sem exageros, sem abusos e sem dor de cabeça no dia seguinte. Qualquer um pode se alimentar bem, dançar, pular, gritar, mas sabendo que no dia seguinte a vida continua. Saúde jogada fora é vida a menos. Pior ainda, quando ela não volta mais.
A ALEGRIA faz bem para todos. O que se sugere é não abdicar da própria dignidade e responsabilidade. Não achar que a natureza pode ser enganada. Ela é exigente e se vinga contra os que a desrespeitam. O que será de muitas pessoas após a Micareta, quando as máscaras e as fantasias forem jogadas fora? São Paulo recomenda: “O Senhor espera de cada um, uma conduta digna de quem é templo do Espírito Santo” (I Cor. 6,19). Isso, durante a Micareta, e em todos os dias de nossa vida.

Dom Itamar Vian
Arcebispo Emérito

di.vianfs@ig.com.br

 

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