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André Pomponet

Candidatos para todos os gostos

01/08/2012

André Pomponet*

 

Dizem que eleição para vereador é a mais democrática e a mais difícil. O leque de candidatos e de interesses é muito amplo: há quem entre disposto a ganhar, com propostas sérias; há quem concorre visualizando um cargo na administração municipal, desde que seja bem votado; há quem deseje projeção, reconhecimento, quando anda pelas ruas; enfim, o sucesso reservado a quem põe a cara na televisão e a voz no rádio argumentando que pode representar bem a população. Para além dos 15 minutos convencionais, a fama dura pelo menos 45 dias e pode render uma cadeira na Câmara Municipal, salário polpudo, assessores, mordomias e, também, muita dor de cabeça para os pouco calejados.

Até uns poucos anos atrás o veículo eleitoral mais dinâmico era a televisão: movidos a som e imagem, os candidatos aproximavam-se mais daquilo que realmente são; o rádio nem sempre transmite vida e as tradicionais fotografias dos “santinhos” dizem pouco, embora sirvam para rejuvenescimentos espantosos. Restavam os comícios, o frente-a-frente com o eleitor, embora esse às vezes seja difícil de encontrar.

A Internet aboliu fronteiras de forma fantástica e os seus benefícios estão disponíveis para o candidato mas, também, para o eleitor que já não precisa ficar à frente da tevê escolhendo candidato. Com meia-dúzia de cliques fazem-se escolhas e, principalmente, exclusões.

Púlpito e tribuna

Assim, com a popularização da Internet, algumas constatações curiosas não precisam aguardar a segunda quinzena de agosto, quando começa o horário eleitoral. Através do endereço eletrônico http://achecandidatos.com.br/ba/feira-de-santana/, por exemplo, o eleitor pode ter uma noção do que o aguarda nos próximos meses.

Uma rápida olhada permite inferir que, a depender das urnas, a tribuna da Câmara Municipal pode ser substituída por um púlpito e os tradicionais discursos por pregações apocalípticas: há nada menos que cinco candidatos autodenominados “irmãos” ou “irmãs” e mais seis “pastores” ou “pastoras”. Há, completando o rebanho, um missionário, um bispo e um diácono.

Os candidatos que, aparentemente, podem capitalizar em cima da indignação dos docentes da rede estadual em greve são sete: afinal, irão às urnas empunhando a condição de “professor” ou “professora”. A Polícia Militar também mobilizou tropas: dois candidatos representam a categoria, ostentando a patente de “sargentos” e um outro, mais graduado, vai com o posto de coronel.

Setor Gastronômico

O setor gastronômico também demonstra fome de votos: há candidatos do lanche, do pastel, do filé, do café, da farinha, do peixe, do salgadinho e do cuscuz. Se o eleitor desejar empregar critérios geográficos, também não vai se decepcionar: tem candidatura no Sobradinho, na Rocinha, na Conceição e no Caseb. Expandindo os horizontes, é possível encontrar “Ceará” e até “China”.

O apelo à mobilidade urbana também é forte: dois candidatos se auto-declararam “Do Táxi” e um terceiro, mais inovador, tenta a sorte nas urnas ostentando como alternativa o “Trenzinho”. Há, também, um candidato do setor “Alternativo”. Embora o feirense goste de andar de moto, não há ninguém que ostente a condição de mototaxista.

Há opções mais excêntricas: o epíteto “Nega Maluca” é empregado por dois postulantes ao Legislativo municipal. Para quem aposta no convencional há sete “Zés”, mas com complementos bastante variados. Maria há somente uma, mas em compensação sobra “Jorge”: cinco.

A identidade profissional também é forte nas eleições 2012 na Feira de Santana: tem costureira, chaveiro, dentista, agente de trânsito e candidatos que abordam problemas específicos: “saúde” e “dengue”. Enfim, tem candidato para todos os gostos.

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André Pomponet é jornalista e economista

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