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André Pomponet

Violência na agenda eleitoral de 2012

01/02/2012

Há cerca de um ano escrevemos um artigo nesta mesma Tribuna Feirense apontando que o número de homicídios na Feira de Santana estava se expandindo a taxas decrescentes e que, em algum momento, seria alcançada uma estabilidade nos números. Nesse mesmo texto indicávamos que, a partir de então, poderia haver declínio, mas a um preço que não permitiria comemorações: afinal, o número de pessoas assassinadas a cada ano no município alcançou a absurda taxa de um assassinato por dia, em média. Isso numa cidade com cerca de 550 mil habitantes.

Os números divulgados pela Secretaria da Segurança Pública referentes à violência na Bahia em 2011, em parte, confirmam esses prognósticos. No ano que se encerrou houve relativa estabilidade na quantidade de assassinatos em relação a 2010, mas o importante é visualizar a série histórica: nessa, em cerca de uma década o número de vítimas praticamente triplicou.

Grande parte da violência se deve à proliferação do tráfico e do consumo do crack. Isso sobretudo a partir da segunda metade da década passada, quando a droga se tornou mais acessível em centenas de cidades brasileiras, inclusive na Feira de Santana que, ironicamente, é prejudicada na sua condição de entroncamento rodoviário.

Em parte, o espantoso crescimento da violência no município se deve à epidemia de crack. Essa dedução, no entanto, é pouco mais que especulação: não existem estudos que confirmem essas suspeitas e, sequer, existem levantamentos minimamente confiáveis. O que há são registros policiais não trabalhados estatisticamente e declarações à imprensa de autoridades policiais.

 

Exploração política

 

A escassez de informações confiáveis, paradoxalmente, constitui pasto abundante para uma abjeta guerra política. Quem é governo encastela-se comodamente na alegação que a epidemia constitui uma herança histórica que foi se acumulando nos 500 anos de Brasil; e quem é oposição arrota o discurso da competência hereditária empregando o sempre fácil jargão da “gestão”.

Esquecidos durante muitos anos, os andrajosos usuários de crack que se esgueiram pelas vielas dos centros das grandes cidades foram, subitamente, lançados à luz da cena política graças à desastrada operação policial na “cracolândia” paulistana: a partir de lá, os brasileiros descobriram que os governos simplesmente não sabem como lidar com a epidemia.

Enquanto as soluções peregrinam nos escaninhos burocráticos, a indústria do tráfico produz finados em escala industrial: só na Feira de Santana pelo menos umas mil pessoas morreram nos últimos anos em função das drogas; são números dignos das regiões mais conflagradas do planeta, a exemplo do Afeganistão ou do Iraque.

 

Eleições

 

Dentro de oito meses os brasileiros elegerão mandatários municipais para os próximos quatro anos. Em alguns municípios – a exemplo da Feira de Santana – a violência e, particularmente, o tráfico e o consumo de crack, figurarão na agenda eleitoral. Isso, inclusive, aconteceu em 2008, quando o tema serviu de mote para a criação de secretarias de resultados duvidosos.

Inescapável, o tema deveria ser tratado pelos candidatos com a seriedade necessária. Prefeito nenhum retirará soluções mágicas de cartolas imaginárias: o problema só poderá ser enfrentado em articulação com os governos estadual e federal. Repassar a responsabilidade para adversários políticos ou dizer que a própria parte foi feita constitui uma excelente desculpa, mas não resolve o problema.

É bom que a lição da “cracolândia” paulistana permaneça na memória dos eleitores, inclusive o feirense. Afinal, se o tema continuar a ser tratado com o recurso da retórica inócua, a mesma cena pode se repetir em outros palcos com atores vítimas do mesmo mal, para espanto do telespectador brasileiro.

André Pomponet