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André Pomponet

Ecos da Lavagem do Bonfim

19/01/2012

Dizem os filósofos da política baiana que a Lavagem do Bonfim é o primeiro termômetro em ano de eleição. Na caminhada de oito quilômetros entre as igrejas da Conceição da Praia e do Bonfim, normalmente sob o sol escaldante dos finais de manhã de verão, os pré-candidatos testam a popularidade distribuindo sorrisos, apertando mãos, envolvendo o eleitorado em largos abraços e, em alguns casos, ouvindo vaias e apupos de eleitores insatisfeitos. O mais comum, no entanto, é o abraço entusiasmado de quem promete marchar com o candidato da vez.

Cordato por natureza, o povo baiano não é muito dado às manifestações de insatisfação. Essas não costumam ser frequentes: a mais recente delas já tem uns três anos e envolveu o prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro e só repercutiu junto à imprensa porque o alcaide da capital, de forma surpreendente, abandonou o cortejo depois de ser vaiado por populares. À época, pra variar, atribuiu os apupos à militância de oposição.

Sorrisos e afagos, porém, não são os indicadores mais confiáveis de popularidade. Afinal, esses gestos de simpatia são distribuídos à mancheia. O que quase sempre sinaliza o cacife eleitoral de um candidato é o tamanho do cortejo que o cerca. Invariavelmente, quem comunga dos ideais governistas larga com ampla vantagem. Em 2012, no entanto, o tamanho da ala governista impressionou mesmo com essa antiga tradição adesista baiana.

Salvo por uma meia-dúzia de renitentes que se aninharam sob os enormes balões dos partidos oposicionistas, o que se viu foi um apoteótico cortejo governista, amealhando políticos outrora de todos os matizes; parcerias indizíveis há um par de anos; e o esforço frenético dos músicos das charangas tentando tocar para todos os gostos.

Profusão de Legendas

Se os sinais emitidos na Lavagem do Bonfim se confirmarem quando as urnas forem abertas em outubro, o bloco governista terá dado um confortável passeio: a complexa, ampla e engenhosa costura política terá assegurado mais de 300 prefeituras ao grupo hegemônico. Nada, porém, de muito novo na recente história política da Bahia, já que foi o extinto PFL que iniciou, com suas camisas listradas, essa tradição.

O que há de novo, no entanto, é a concertação política que pulverizou o domínio sobre as prefeituras baianas, antes restrito basicamente ao extinto PFL, que migrou para a oposição rebatizado como DEM. Hoje, além do hegemônico PT, desfilam o recente PSD, o PP e o não solidamente oposicionista PMDB, além de legendas satélites como o PTB, o PSB, o PDT, o PC do B e o PSDB. Apenas na terceira divisão aparece o DEM, outrora todo-poderoso PFL, esvaziado pela “vocação” governista dos seus quadros.

Essa profusão de siglas que digladiam pelo controle das 417 prefeituras baianas deve ser vista com otimismo, em que pesem todos os problemas decorrentes da anarquia ideológica que tem caracterizado essas legendas. É que, pela segunda vez em eleições municipais, a Bahia vai às urnas sem a sombra coronelista que ameaçava, constrangia e sujeitava o cenário político local.

Mais Democracia

A pulverização do poder municipal entre diversas legendas – mesmo que falte consistência à maior parte delas – é benéfica para a democracia e para a sociedade. Primeiro porque lipoaspira o poder dos déspotas de plantão; segundo porque, inevitavelmente, surgem mais alternativas eleitorais, o que é favorável à disseminação de novas ideias; e, terceiro, há a tendência da incorporação de novos atores institucionais no cenário político, como organizações não-governamentais e movimentos sociais. Em suma, todos ganham com mais democracia.

Na Feira de Santana, por exemplo, estão colocadas quatro legendas no tabuleiro político com candidatos competitivos: o PDT do prefeito Tarcízio Pimenta, o DEM do ex-prefeito José Ronaldo de Carvalho, o PT do deputado estadual José Neto e o PMDB do ex-deputado Colbert Martins. A rigor, todos tem chances de vencer as eleições ou, pelo menos, influir no processo.

Esse cenário possibilita ao eleitor feirense avaliar melhor os nomes que se colocam para a prefeitura e escolher aquele que atenda melhor às suas expectativas. Bem mais democrático que nos tempos em que o dedo d’algum ditador apontava para o seu preferido e, depois, a máquina governamental e o silêncio constrangedor de parte da imprensa faziam o resto..

André Pomponet