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André Pomponet

O caos que se arrasta na BR 324

01/11/2011

A primeira praça de pedágio implantada na BR 324, no trecho entre a Feira de Santana e Salvador, está perto de completar o primeiro aniversário, mas a melhoria dos serviços está ainda por vir à luz. Incontáveis buracos – alguns verdadeiras crateras – multiplicam-se na pista, o acostamento se desfaz às primeiras chuvas e trechos à margem da rodovia desmoronam, exigindo o paliativo das lonas pretas que tentam encobrir a situação vexatória à qual estão expostos os viajantes. De novo somente o enervante ritual do pagamento da tarifa nos dois postos de pedágio.

Quem viaja empreende aventura arriscada: as manifestações constantes atrasam as viagens em horas e os acidentes contínuos trazem o desconforto das longas esperas em engarrafamentos intermináveis. O pior de tudo é a sensação de desamparo: ninguém tem uma justificativa consistente para o estado da pista e para o pedágio que continua sendo cobrado religiosamente.

Esses problemas, já incorporados à rotina, tornam-se ainda maiores quando os feriados se avizinham. Nesse período, percorrer os 108 quilômetros que separam as duas cidades pode se tornar uma empreitada que se arrasta por até  cinco ou seis horas. Viagens voltadas para o lazer e a diversão tornam-se verdadeiras provações.

Quem já esqueceu os longos engarrafamentos que começavam na rodovia e travavam o trânsito até mesmo dentro de Salvador? No feriado da Semana Santa, chegar à Feira de Santana implicou numa operação complexa que, no caso dos que viajaram de ônibus, alcançou oito longas horas.

Protestos

A situação torna-se ainda mais caótica porque, além dos atrasos decorrentes do fluxo crescente de veículos há, constantemente, manifestações de moradores que descobriram na interrupção do trânsito a fórmula mais adequada para ganhar visibilidade na imprensa. Mesmo quando a causa dos protestos não tem nenhuma relação com o bloqueio de uma estrada.

Qualquer insatisfação – e as insatisfações são abundantes nas inúmeras comunidades à margem da rodovia – motiva uma manifestação. Enquanto a imprensa chega para noticiar e as autoridades são aguardadas para começar a negociação, os viajantes aguardam, enfadados, o desfecho.

Acompanhar o noticiário traz mais perplexidade que orientação. Nenhuma autoridade apresenta explicações plausíveis para o caos que se instalou na BR 324. O que prevalece são as mesmas evasivas de sempre e, às vezes, alguém arrota valentia prometendo providências que são esquecidas até o próximo feriado ou até o próximo engarrafamento monumental.

Fim de Ano

Falta pouco mais de 50 dias para o período crítico de final de ano, quando um número enorme de pessoas deixa Salvador em direção aos municípios do interior. Como a BR 324 é, na prática, quase a única rodovia que liga a capital ao interior, é inevitável que se formem imensos engarrafamentos. Principalmente com duas praças de pedágio funcionando simultaneamente.

É necessário, portanto, que a empresa concessionária e os órgãos públicos responsáveis manifestem-se sobre o que pretendem fazer para contornar o verdadeiro caos que se estabelece no período na BR 324. Não se trata, evidentemente, de um gesto simpático, mas de um dever, pois pagar o pedágio na rodovia é inevitável para o viajante.

Durante anos muita gente defendeu a privatização – ou a concessão à iniciativa privada – como a solução para todos os males que afligem os brasileiros. A experiência demonstra que, quando o processo é conduzido de forma desastrada, os prejuízos para a população podem ser ainda maiores.

Resta, a partir daqui, aguardar quais serão os próximos passos. Se é que ocorrerão...

Blog: www.andrepomponet.blogspot.com

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André Pomponet é jornalista e economista

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