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André Pomponet

O espetáculo do futebol amador

17/10/2011

Numa cidade com poucas alternativas de lazer como a Feira de Santana, o futebol amador dos finais de semana cumpre a função de divertir, entreter e congregar um número de pessoas difícil de ser mensurado. Enquanto centenas de atletas correm atrás da bola em dezenas de campos espalhados pelos diversos bairros da cidade nas manhãs de domingo, milhares de expectadores acompanham atentos, vibrando e torcendo por suas equipes.

Essa atividade se desenvolve em praças esportivas razoavelmente estruturadas – como na Vila Olímpica dos Amadores ou no Beira-Riacho, ali ao lado do Centro de Abastecimento – ou em campos duros de terra batida, nos quais a boa-vontade dos apaixonados por futebol ajuda a superar inúmeras deficiências.

Um exemplo do que a paixão pelo futebol pode produzir é o próprio Campeonato Feirense de Amadores, que há décadas reúne equipes de bairros diversos, que se enfrentam em partidas aguardadas com imensa expectativa ao longo da semana. Organizada sob a tutela da Liga Feirense de Desportos, a competição retrata a tenacidade e o empenho dos incontáveis cartolas do futebol amador feirense.

O futebol amador feirense, porém, vai muito além dessa competição. Alguns bairros estruturam suas próprias ligas – quase sempre informais – que mobilizam atletas, organizam competições, convocam a torcida e lutam para oferecer infra-estrutura para a realização das partidas e algum conforto para o expectador.

Política Pública

O apoio ao esporte amador é uma política pública que envolve a aplicação de recursos modestos, mas que produz resultados bastante expressivos. Um dos mais óbvios é o incentivo às práticas esportivas que ajudam a prevenir doenças e manter o corpo saudável.

Um dos segmentos mais favorecidos pelo apoio oficial ao esporte é a juventude. Por um lado, contribui para manter adolescentes e adultos jovens afastados do flagelo das drogas; por outro lado, permite a inserção social através do convívio em grupo e da dedicação a uma atividade saudável também sob a dimensão social.

Embora exposto a eventuais “lambanças” e até a agressões físicas durante as partidas, o futebol amador cumpre o papel importante de congregar pessoas – muitas delas humildes que não dispõem de expressivas alternativas de convívio social – e de permitir uma integração muito salutar o que, em linhas gerais, contribui para uma harmonia social difícil de se ver nos dias atuais.

Atividade Econômica

Há quem veja como principal – talvez única – função dos campeonatos amadores de futebol a revelação de novos talentos que ingressarão em times profissionais e ganharão fortunas. Um dos produtos do futebol amador é, de fato, o atleta talentoso que pode ser acolhido por grandes equipes.

Isso, porém, é exceção e muita gente desperdiça parte da juventude perseguindo a ilusão de surgir para o futebol profissional. Alguns abdicam do convívio familiar, do trabalho e dos estudos e enveredam na roda-viva das “peneiras” e da dependência em relação a empresários inescrupulosos. Com as frustrações e o passar dos anos, voltam-se para a vida verdadeira, mais velhos e pouco qualificados para o trabalho.

É saudável saber que o futebol amador vai muito além dessa visão estreita. O esporte nos finais de semana congrega, harmoniza, promove inclusão social, afasta da tragédia das drogas, valoriza a saúde e – às vezes – ajuda a revelar um jovem talento. Tudo isso temperado pela alegria espontânea do torcedor brasileiro.

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André Pomponet é jornalista a economista

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