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André Pomponet

Festa junina antecede tormentoso trimestre

07/06/2022

Os acordes familiares dos forrós já tomam conta das ruas, das lojas, dos bares, das residências particulares da Feira de Santana. Aquelas bandeirolas típicas do período junino também já alegram os ambientes, mobilizando gente, entusiasmando as pessoas. Não faltam as bebidas e os pratos típicos do período: o amendoim cozido, o milho assado, a canjica, os bolos com os sabores da época, a diversidade de licores multicoloridos que aquecem os corações e adoçam os mais distintos paladares.

Há quase três anos que o nordestino não pode se dedicar à sua festa mais celebrada – alguns locais promovem arrasta-pé durante todo o mês de junho – com o entusiasmo habitual, por conta da pandemia da Covid-19. Mas, agora, com o arrefecimento da doença – embora se registre, no momento, preocupante tendência de alta – a expectativa é de uma imensa folia, com forró, comida, bebida e o foguetório típico do período.

Imagino os congestionamentos pitorescamente festivos que vão se irradiar a partir de Salvador ao longo da BR-324, alcançando a Feira de Santana e se estendendo, a partir daqui, pelas rodovias que cortam a região. Em anos anteriores, nos momentos mais agudos, havia engarrafamentos até mesmo no perímetro urbano da Princesa do Sertão. Tudo indica que, em 2022, o transtorno vai se repetir, em função da imensa expectativa pela festa.

Nas cercanias da Feira de Santana São Pedro está contribuindo para animar os festejos juninos: chove com regularidade desde o começo do ano e quem plantou sua roça de milho prepara-se, feliz, para a colheita. Quem cultiva os demais produtos típicos do período também não reclama, chuva e sol alternaram-se, até aqui, em perfeita harmonia.

Em tese, firma-se uma espiral virtuosa: a colheita assegura renda do lado da oferta e, do lado de demanda, garante preços mais em conta, em função da fartura. É claro que a inflação assombra todo mundo e muitos, coitados, penam com o desemprego e a compressão da renda. Mas imagino que isso não vai ofuscar o brilho intenso da festa.

Assim, apesar dos cuidados que a pandemia ainda impõe, é bom o nordestino – e o baiano e o feirense – regalar-se com sua celebração mais aguardada até o final de junho. Porque o trimestre vindouro – que vai culminar com as eleições presidenciais no começo de outubro – será duro, provavelmente prenhe de violência, de sofrimento e de tristezas. Tudo indica que os trogloditas encastelados no poder não vai largá-lo voluntariamente, mesmo possivelmente derrotados nas urnas.

Então é bom ir curtindo o período junino, viver o mês intensamente porque, mais à frente, o trimestre será duro. Quiçá os meses posteriores também. Tudo indica que o brasileiro viverá, plenamente, sob a república de Rio das Pedras, até o raiar de uma metafórico novo dia...

André Pomponet