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André Pomponet

Preço da energia elétrica sobe e trevas se adensam

22/04/2022

Está cada vez mais difícil para os baianos jurarem pela luz que os alumia: a tarifa de energia elétrica sofreu mais um reajuste, de inacreditáveis 20,73%. Jurar, agora, só se for pela luz do sol, porque pela luz elétrica está ficando impraticável. O aumento foi autorizado pela Aneel, a Agência Nacional de Energia Elétrica e já vale a partir de hoje (22). Quatro estados nordestinos foram premiados com o reajuste, destacando-se o Ceará, com impressionantes 24,85% de elevação.

A Aneel estima que o consumidor residencial baiano pagará 1,58% a menos na média da conta a partir do próximo mês, já que a tarifa extra cobrada em função da crise hídrica foi extinta. Noutras palavras, o alívio pelo fim da taxa adicional se desfaz com o reajuste – pesado – que vai comprimir, ainda mais, o já achatado orçamento doméstico dos baianos.

Fosse só o esporádico aumento das tarifas de energia o baiano sorriria feliz: o botijão de gás há muito ultrapassou a barreira dos R$ 100, os preços dos alimentos sobem vertiginosamente há anos, os planos de saúde anunciam aumento – astronômico também – impactando os bolsos dos “privilegiados” que ainda os mantém e a gasolina nos postos de combustíveis baianos é uma das mais caras do Brasil.

O cenário é ainda mais funesto: fosse só a carestia, ainda dava para sustentar o nariz acima da linha da água da crise, respirando-se e aguardando a maré vazante. Mas não: o emprego some, a renda encolhe, os direitos trabalhistas são garroteados e a fome cresce, resgatando os antigos fantasmas da exclusão e da desigualdade. No mar agitado da crise, as ondas já arrebataram os brasileiros, que se debatem, em pânico.

Mas, como desgraça pouca é bobagem, tudo pode ser muito pior: todo este horror poderia ser atribuído aos efeitos da pandemia e à interminável estagnação econômica na qual o País mergulhou há quase uma década. Governantes sensatos poderiam estar aí como timoneiros, tentando conter as ondas, lançando boias para resgatar os náufragos da crise. Não é o que se vê e o noticiário, a cada dia, torna-se mais estarrecedor.

Hoje mesmo as manchetes foram ocupadas por mais uma crise gerada por Jair Bolsonaro, o “mito”, que se empenha em enquadrar o Judiciário, pavimentando o caminho para sua paranoica, ridícula, extemporânea e extravagante autocracia. Caso dobre o Judiciário, poderá se livrar até mesmo do Legislativo, pusilânime e já vendido. Mergulharemos num regime tocado por milicos, milicianos e pastores lobistas, acolitado por uma fauna impressionante de alucinados.

E a inflação, a carestia, o desemprego, a fome, a violência, a destruição, todos estes horrores que acossam os brasileiros? Tornam-se texto de rodapé, nota irrelevante no degradante espetáculo que se descortina todos os dias...




André Pomponet