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André Pomponet

O bode “Napi”, mascote do Touro do Sertão em 1979

05/02/2021

Mais uma temporada se aproxima para o futebol baiano. Com ela, reacendem-se as esperanças das torcidas dos times do interior. O Fluminense de Feira – com diretoria nova, já que o ex-presidente renunciou – ostenta o mesmo otimismo. Será que o time, finalmente, vai conseguir ser campeão baiano? Quem frequenta as arquibancadas do Joia da Princesa já ouviu falar da famosa “caveira de burro” enterrada no estádio. Reza a crença que, quando ela for localizada, o time vai deslanchar, ganhar título adoidado. Todo jogo alguém comenta isso.

A crendice não é nova, nem recente. No remoto ano de 1979 o Touro do Sertão ganhou uma pitoresca série de notas nas páginas do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro. A primeira foi na edição de 16 de outubro. Ao invés da famosa caveira, a personagem foi um bode.

O título foi curioso: “Bode é atração do Flu de Feira”. A matéria também: “O Fluminense de Feira de Santana conseguiu domingo sua primeira vitória no Campeonato Nacional ao derrotar o Atlético de Goiás por 1 a 0. O sucesso da equipe, no entanto, foi creditado ao bode ‘Napi’ que, pela primeira vez, deu uma volta olímpica antes de o jogo começar e, em meio à confusão, acabou caindo junto à bandeira de corner”.

O melhor veio depois: “Desse ponto saiu o cruzamento que resultou no único gol da partida”. A apoteose se deu após a partida, conforme o mesmo Jornal do Brasil: “Depois do jogo, os torcedores invadiram o campo para comemorar o resultado e, ao invés de carregarem técnicos, dirigentes e jogadores, levantaram nos braços o bode ‘Napi’ vestido com as cores verde, vermelho e branco”.

Aqueles eram tempos mais irreverentes, apesar da ditadura militar que asfixiava o País. Seja por crendice ou por uma esperta jogada de marketing, o fato é que “Napi” foi encomendado como parte de um “trabalho”. É o que informa a nota do JB: “A presença de ‘Napi’ (...) fez parte de um trabalho encomendado pelos torcedores do Fluminense para melhorar a participação do clube no Nacional. Com o bom resultado obtido, todos acreditam agora que o azar do time acabou”.

Não foi bem assim: na rodada seguinte, “Napi” até deu sorte contra o Itumbiara-GO (1 a 0) e impediu a derrota contra o Mixto (0 a 0). Ambas as partidas foram no Joia da Princesa. Mas depois o time desandou contra o Itabuna (0 a 1). Naquela partida – numa nova nota – o Jornal do Brasil informa que a torcida do Flu de Feira decidiu não levar o animal para Itabuna, porque ficou “temerosa de uma represália”.

Depois, mais uma vitória contra o Brasília e empate com o Gama. No primeiro jogo, com a presença de “Napi” – o JB registrou também –, o Touro venceu por 1 a 0. Isso foi no Joia da Princesa. O empate com o Gama foi em Brasília e o resultado não foi suficiente para levar a equipe à fase seguinte. Desde então, o Touro do Sertão nunca mais disputou a principal divisão do futebol brasileiro.

Seja por crença, folclore ou marketing – só o pitoresco atrai a atenção da imprensa do Sudeste até hoje – o fato é que o Touro do Sertão ganhou espaço num dos principais jornais do País. Atualmente – nessa época de iracundo fundamentalismo religioso – irreverência do gênero se tornou mais rara e, inclusive, pode atrair a cólera dos intolerantes de plantão...

André Pomponet