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André Pomponet

Mudanças climáticas na Feira

15/09/2020

Choveu na noite de domingo aqui na Feira de Santana. Lá fora, via-se a poeira d’água, esbranquiçada, diluindo o centro da cidade mergulhado nas sombras e no silêncio. Nuvens sanguíneas se espalhavam pelo céu. Mas houve sol de primavera ao longo do dia. E também choveu algumas vezes. Uma luminosidade baça prevaleceu durante as precipitações. E até a atmosfera assumiu aqueles tons plúmbeos, de inverno. Esquentou e, depois, a temperatura caiu. Num só dia, as quatro estações se revezaram, desnorteando o feirense.

Note-se que as chuvas estão sendo muito regulares aqui na Feira de Santana em 2020. E foram bem distribuídas ao longo dos meses. Ano passado também choveu bastante. Mas houve menos regularidade, mais concentração. Imagino que, na zona rural, há fartura de milho, de feijão. Há três anos, em 2017, também choveu bem, depois de uma interminável seca.

Só que, quando não chove, a Feira de Santana pena sob um calor implacável. Não é só em janeiro, não: em outubro – e outubro já está próximo – começa o desconforto, a inquietação. Em dezembro – quando já há aquele frenesi do verão que se aproxima – a cidade arde, esbraseada. Nos dois primeiros meses do ano o feirense se movimenta pouco a partir das 10 da manhã. Só circula mais quando o crepúsculo já se anuncia, às 16 horas, revigorando-se.

Nova trégua nas altas temperaturas só costuma vir a partir de abril. Até lá, o horizonte tremula em ondas de calor nas avenidas, nas praças, nos espaços abertos. Esse calor vem se tornando insuportável até para quem é nativo e sempre viveu na cidade. Ano a ano, pelo que indica o noticiário, batem-se recordes de altas temperaturas, não só aqui, mas mundo afora.

Sempre me pergunto se isso não tem a ver com mudanças climáticas. As chamas no pantanal, em parte, se devem ao fenômeno; nos Estados Unidos, cientistas enxergam o mesmo problema em intensas queimadas que estão acontecendo por lá. Por quê ficaríamos imunes, então?

Obviamente, é muito cedo para chegar a qualquer conclusão. A ciência tem seu tempo próprio, não existem “milagres” para abreviá-lo. Mas, como observador sem rigor científico, especulo se as chuvas frequentes – às vezes muito intensas – e o calor insano não compõem o cardápio do “novo normal” das mudanças climáticas em parte do Nordeste. Pelo menos na parte que abriga a Feira de Santana.

Isso só estudos e longos anos de observação poderão elucidar. Mas o calor que aguarda o feirense no Natal e no Ano Novo – quando a neve de algodão enfeita as vitrines das lojas – é desolador. Não parece coisa de anos excepcionalmente quentes, não. Parece algo frequente, que veio para ficar. É o que especula muita gente leiga, que nem eu. Não faltam comentários pela cidade.

Assim, apesar da chuva encorpada da noite de domingo e da temperatura amena, é bom ir se preparando para mais um verão incandescente. É o que vem se tornando rotina – o “novo normal” – dos últimos anos...       

André Pomponet