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André Pomponet

Quando falta governo, a ajuda vem do céu

08/03/2020

Ninguém poderá alegar que, na Feira de Santana, as águas de março não estão fechando o verão: uma forte tempestade desabou sobre a cidade na manhã de hoje (06), lançando perspectivas promissoras para a safra de inverno. Nuvens muito escuras despontaram logo cedo na orla do céu e, aos poucos, foram abarcando a amplidão. Uma luz estranha, baça, destoava da claridade das manhãs habituais. E, pouco depois, despencou a forte tempestade, que diluiu o horizonte numa espessa cortina d’água.

Não faltou gente espantada com a intensidade da tempestade. Aliás, 2020 vem sendo promissor para a agropecuária na região: em janeiro foram diversos aguaceiros que ampliaram a reserva hídrica que, na época, costuma estar em situação crítica. A chuva também vem antes de 19 de março, data consagrada a São José e que, na sabedoria popular, costuma antecipar invernos bons.

Caso as chuvas se prolonguem, a colheita de produtos típicos do São João – como o milho e o amendoim – será mais farta. Para quem vende é alentador: com mais mercadoria, fatura-se mais, é evidente. Para quem compra também é vantajoso: mais oferta implica em preços mais em conta. Enfim, a consagrada espiral virtuosa da economia.

Os espaços que agregam comerciantes e consumidores – as feiras-livres, o Centro de Abastecimento, os mercadinhos de bairro – também vão se beneficiar deste dinamismo. Mas tudo depende da continuidade das chuvas. A sabedoria popular, porém, é amparada por um conjunto de indícios que estão presentes aí, animadores.

Assim, nestes ásperos tempos que o Brasil atravessa, o socorro está vindo de céu: a chuva, com seus reflexos positivos sobre a agricultura e a pecuária, ajuda a mitigar o caos social que o País enfrenta. Quem dispõe de pouco e vive no rural tem que cavoucar a terra e aguardar o auxílio divino, na forma de um inverno farto porque, dos governos, não dá para esperar muito.

Ironicamente, o Brasil vive sob o primado de auto-proclamados “cristãos furiosos”. Pelo jeito, as convicções dessa gente foram forjadas nas passagens bélicas do Velho Testamento e não nas arejadas páginas dos Evangelhos de Jesus Cristo. Afinal, não há sabedoria cristã em condenar parte da população à fome. Mas é o que se vê.

Tabu aqui na Feira de Santana, a lipoaspiração dos programas sociais – a exemplo do Bolsa Família – reverbera pouco na mídia e nos meios políticos, mas produz efeitos danosos na vida de quem está mais vulnerável à pobreza e à miséria. É o caso de muitos que vivem no campo.

Apoio essencial para quem que vivem nas áreas rurais, a iniciativa encolhe no Nordeste, vítima da má vontade de Jair Bolsonaro, o “mito”, que considera a região uma imensa “paraíba”, no sentindo pejorativo da expressão.

André Pomponet