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André Pomponet

Faces do aquecimento global na Feira

18/03/2019

- Nunca tinha visto um temporal desses em minha vida – reagiu um morador do distrito da Matinha, depois da tempestade com rajadas de vento que caiu na localidade no mês de fevereiro. Foi imediato o sucesso das imagens da ventania nas mídias sociais.

Efetivamente, foi uma tempestade impressionante. Semelhante, inclusive, à que desabou sobre a Feira de Santana logo na sequência, um ou dois dias depois. Os efeitos foram dramáticos: alagamentos, lama inundando casas, móveis destruídos, construções danificadas. O que espantou, na ocasião, foi a escala dos estragos.

Há uns poucos dias uma tempestade de raios desabou sobre o centro da cidade e nas cercanias. Choveu forte, mas rápido e quem circulou pelas estreitas artérias comerciais se espantou com a quantidade de raios. Os mais cautelosos não dispensaram o abrigo até o fenômeno se dispersar.

As chuvas torrenciais e os raios são fenômenos pontuais. A constante é o calor indescritível que se arrasta desde meados do ano passado, com tréguas curtíssimas. Mesmo à noite – quando a temperatura, tradicionalmente, cai – o calor se mantém, quase intolerável. Circular entre o final da manhã e o início da tarde é um desafio imenso, mesmo para quem ostenta excelentes condições físicas.

Aquecimento global

- O calor nessa cidade não era assim...

É o que os mais velhos comentam. Alguns, mais criteriosos, vasculham a memória à cata de canículas intermináveis. Praticamente ninguém consegue mencionar intervalos muito longos de calor tão intenso. Há quem aponte a derrubada indiscriminada de árvores na cidade como uma das razões. É uma explicação cabível para as “ilhas de calor” mencionadas pelos meteorologistas, mas infelizmente o fenômeno não é apenas local.

Respeitadas universidades mundo afora estão preocupadas com o aquecimento global. A Europa, por exemplo, já sofre com verões escaldantes, menos comuns noutros tempos. Mas, no Brasil que regride a um desconcertante primitivismo, desdenha-se da questão. Chuvas torrenciais e temperaturas altíssimas são desdobramentos desse aquecimento, apontam cientistas.

Em 2019, por exemplo, a safra de soja no País vai ser 14% menor que o esperado. A razão? Variações climáticas imprevistas nos estados produtores. Chuva diluviana e muito calor. Só que, no governo de plantão, exalta-se a motosserra como símbolo do progresso, como alavanca da nossa prosperidade material.

Bernardino Bahia

Noutros tempos, o centro da Feira de Santana era muito mais agradável. A profusão de barracas, a implacável revogação do verde, o asfalto indiscriminado, o vidro e o concreto tornaram tudo mais quente. Hoje, um dos poucos locais amenos é a praça Bernardino Bahia, ali perto da Sales Barbosa, aonde se destacam duas árvores imensas.

Qual deve ser o diâmetro daqueles dois gigantescos, indescritíveis monumentos? Seria bom que fossem medidos. Seria bom, também, que aquelas plantas soberbas recebessem a atenção devida. É inestimável o serviço que prestam ao feirense esfogueado, ao tabaréu abafado, suarento, que procura pouso por alguns instantes. Sob a sombra, sempre sopra uma brisa fresca. Ouvem-se até pássaros.

Muita gente se aglomera ali, nos intervalos de sua labuta, sobretudo às segundas-feiras pela manhã. Há pregações religiosas quase perpétuas quebrando o silêncio fugaz. Que árvores serão aquelas? Tenho imensa curiosidade em saber. São imponentes, magníficas, relíquias vivas de uma Feira de Santana que já não existe mais...

 

 

Bahia de Feira desponta e Fluminense decai

 

À primeira vista, o Campeonato Baiano 2019 – o “Baianinho”, que se estenderá, esse ano, por pouco mais de dois meses – está repleto de emoções. Afinal, os dois primeiros colocados são o Bahia de Feira e o Vitória da Conquista, duas equipes do interior; na sequência, aparecem o Vitória – mergulhado numa das maiores crises administrativas de sua história recente – e, fechando o grupo dos que se classificam para a próxima etapa, o Atlético de Alagoinhas. Só na quinta colocação aparece o Bahia, o atual campeão.

O cenário é menos empolgante do que aparenta. Rebaixado para a Série B do Brasileiro ano passado, o Vitória vive um momento deplorável; e o Bahia – que não foge do padrão das exibições sofríveis – disputa a competição com uma equipe mista, sob o pretexto de que, neste início do ano, está envolvido em quatro competições. De uma delas – a Copa Sul-Americana – até já se despediu, eliminado por uma obscura equipe uruguaia. Agenda cheia, porém, não é pretexto para futebol medíocre.

Não é à toa, portanto, que o cenário está favorável para as duas equipes do interior que frequentam a ponta da competição. É necessário reconhecer que o Bahia de Feira – apesar do desempenho sofrível da dupla soteropolitana – vem bem na competição desde o início e, em algumas partidas, acabou prejudicado pela arbitragem.

É possível que, em 2019, o Bahia de Feira repita o feito e conquiste o Campeonato Baiano, como em 2011? Não se deve duvidar. Esse é o momento mais favorável desde aquela ocasião. Afinal, além das partidas razoáveis da equipe, os dois grandes de Salvador estão aí aos trompaços, ostentando nos gramados uma mediocridade difícil de se ver.

E o Fluminense?

Decepção é o Fluminense de Feira. Até a estreia havia uma difusa confiança da torcida no título – nesse 2019, são 50 anos da última conquista no estadual – que foi se desfazendo à medida que a competição avançava. Os dois últimos tropeços – perdeu no Joia da Princesa para o Vitória da Conquista (1x3) e o clássico local para o Bahia de Feira (0x2) ontem (10) – sacramentaram a derrocada.

A derrota anterior, em casa, precipitou um inusitado movimento da torcida: público zero no estádio, no clássico contra o Bahia de Feira. A mobilização foi feita por redes sociais e provocou apaixonados debates. Mesmo assim, 1.461 testemunhas pagaram ingresso. O movimento pode não ter sido determinante para a derrota, mas elevou a tensão antes do jogo.

Caso tivesse vencido os dois jogos – era o que o torcedor esperava – a equipe estaria na ponta da tabela. Mas pelo menos o fantasma do rebaixamento foi afastado na rodada de ontem: o Jacobina, com apenas cinco pontos – o Touro do Sertão tem nove – não pode mais alcançar a equipe feirense na última rodada.

Resta ao Fluminense disputar a Série D do Brasileiro. E começar, mais uma vez, a planejar a próxima temporada quando as esperanças da quebra do jejum no estadual serão, novamente, renovadas...

André Pomponet