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Genaldo de Melo

A conspiração dos Pazzi, a vingança dos Médicis e o ódio na política

15/09/2018

Recebi mensagem de um amigo militante petista que de forma ainda romântica como nos anos oitenta (quando o partido estava em formação e sonhava com um projeto político para o país, em que a justiça social fosse de fato o foco principal, em detrimento dos interesses particulares de apenas alguns indivíduos e grupos políticos e econômicos, que sempre foram as premissas para o chamado subdesenvolvimento em todos os sentidos de nosso país), em que o mesmo solicita nossa modesta opinião sobre os últimos acontecimentos do país em que o ódio de algumas pessoas parece que tomou conta das ruas do país contra o seu partido e seu maior líder.

Em seu texto ele estupefato observa tudo em que o seu partido, em uma correlação com outras forças políticas, transformou o país numa potência econômica mundial, em que tanto aqueles que são responsáveis pelo desenvolvimento econômico propriamente dito, como aqueles que são a força do trabalho, deram-se literalmente bem na sociedade, não entende porque tanta perseguição política, tanto na imprensa tradicional como em parcela da sociedade, contra tudo e a todos que representam as chamadas “cores vermelhas” que estiveram no poder de um país com a bandeira verde e amarela.

Não posso ser agressivo no discurso contra esse ingênuo amigo, que parece que não entendeu ainda que política como “coisa em si” não é apenas sonho de movimentos sociais da chamada Sociedade Civil organizada, que política não é feita apenas pelos santos, porque se assim fosse Deus já teria perdido o céu. A política é exatamente a arte de convencer de que o seu projeto de sociedade é melhor do que aquele outro que está sendo apresentado ou posto em prática. A política é uma disputa eterna pelo controle dos meios políticos do Estado. Que para tanto, determinados grupos políticos utilizam os mais variados meios para chegar a atingir os seus objetivos, que é exatamente o controle do Estado. Na política o resto é inocência, ou apenas leitura de teses!

Mas para exemplificar o que digo vou lembrar um pequeno detalhe da história, um pouco esquecido, mas que serve de exemplo claro de como funciona o pragmatismo da política sem romantismo. No dia 26 de abril de 1478 na Florença medieval de Niccolò Machiavelli, este que contava com apenas nove anos de idade, aconteceu a famosa Conspiração dos Pazzi, uma tentativa fracassada dessa família de banqueiros e mercadores de tomar o poder pela força da famosa família dos Médicis.

O planejamento da conspiração política foi coordenado por Giacomo Pazzi, provavelmente com apoio do Papa Sisto IV, do Duque de Urbino e do Arcebispo de Pisa. A idéia deles era matar Juliano e Lourenço de Médici, chamado de “O Magnífico”, no momento em que estes estivessem rezando ajoelhados na catedral, e ao mesmo tempo, os homens leais aos Pazzi, cercavam os palácios públicos tomando o poder “na tora”. A conspiração não deu certa graças à coragem e a valentia do próprio Lourenço de Médici, morrendo apenas no atentado seu irmão Juliano de Médici.

Não dando certo a conspiração política, os Médicis que tinham o poder e o controle de todos os meios políticos, econômicos e de comunicação na cidade de Florença, convenceram o povo contra a “maldade” dos Pazzi, que foram perseguidos com tanta ferocidade “bíblica”, que tal fato da história até hoje é lembrado como o mais cruel contrataque político da Idade Média. O Arcebispo de Pisa foi enforcado e pendurado na janela mais alta do Palazzo Vecchio para servir de exemplo aos demais, e os Pazzi de um a um foram perseguidos, destroçados e esquartejados vivos, queimados e assados em fogueiras, em praças públicas, começando pelos pés. Para cada membro da família dos Pazzi ou de simpatizantes que eram detonados publicamente, Botticelli fazia um grande desenho nas paredes do Palácio Bargello, e Lourenço de Médici fazia ao lado um verso de seus mais cruéis defeitos morais.

O corpo do líder da família Pazzi foi arrancado do túmulo e queimado, e teve suas cinzas jogadas no rio Arno para que seus restos não contaminassem a terra “sagrada” de Florença. Suas lembranças, seus nomes e quaisquer detalhes que os lembrassem foram encobertos, destruídos e tirados da história de Florença. Foram literalmente banidos da história do povo florentino. Como o Papa, que foi aliado dos Pazzi, não se deu por vencido, pois era apoiado por Fernando I, rei de Nápoles, Lourenço foi pessoalmente à Nápoles e convenceu Fernando a apoiá-lo, encerrando assim, a conspiração.

O exemplo histórico contado aqui serve para se saber que não se pode jamais, como meu amigo que me encaminhou a mensagem acreditar que política tem romantismo, pois quem perdeu reiteradas vezes o poder que tinha de forma hereditária, necessariamente vai fazer qualquer tipo de crueldade política, diferente dos métodos utilizados pelos Médicis, porque a história é outra e os tempos também não permitem, para conquistar o que foi tomado pelo voto nas urnas. Política não é coisa de freiras...!

Genaldo de Melo